Gostei imenso de assistir esta conversa entre Michael Hobson (Classic Records) e Chad Kassem (Acoustics Sounds). Por falar em boas companhias… esta forma de fazer as coisas praticamente só existe nos Estados Unidos, esta realimentação positiva mútua. É uma mentalidade de trabalho, de obsessão, de qualidade, de paixão (pela música), de humildade (em oposição a uma arrogância dos americanos colectivamente), de conhecimento, de vontade em saber mais, de vontade de partilhar e também aprender com os outros, de amizade, de gratidão, de arriscar e, no fim, contar com o melhor. É extraordinário o que conseguiram, numa época em que o vinil estava virtualmente morto.
É incrível ouvir Hobson mencionar o orgulho que é estar ali ao lado daquele homem, que conseguiu fazer discos num patamar que ele só almejou e que hoje edita os “melhores do universo” (admito aqui a imodéstia, mas está a falar dos discos da Analogue Productions, que estão certamente no topo, entre os melhores dos melhores). Kassem responde que aprendeu muito com ele. Mas verdade é que aprenderam um com o outro e com muitos outros, só assim é possível.
Ambos fabricavam os discos na RTI que é de onde vêm alguns dos melhores discos que tenho, como por exemplo os recentes Chet Baker editados pela Craft Records, mas quando as grandes editoras descobriram que o vinil afinal estava vivo, Hobson teve de arranjar uma alternativa e acabou por comprar uma fábrica de vinil que transportou para a California. Mais tarde vendeu-a a Chad Kassem que a transformou na Quality Record Pressings, onde os discos são prensados à mão (um a um) e de onde saem alguns das melhores edições que é possível pôr a tocar. Outra diferença que se pode observar relativamente aos negócios nos EUA, é a honestidade e transparência — apesar de ser um processo razoavelmente complexo, os preços estão à vista para quem quiser ver quanto custa editar um disco de qualidade. Noutros lados, para coisas bem mais simples, só para um orçamento é preciso um requerimento em papel azul de 25 linhas e mesmo assim não há garantias.
A certa altura diz-se que ouvir música em vinil requer uma devoção e uma atenção que o digital dispensa e compara-se de forma que eu próprio já comparei: É como ver um filme e é assim que agora ouço música.
Esta conversa é de grande interesse para quem gosta de música em vinil e de histórias contadas por quem as viveu.