Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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Maid

Publicado em 12/01/2022

Depois de ter dado ☆ ☆ ☆ à série Maid, vi-me a pensar no assunto e apesar de acrescentar apenas meia estrela, é uma série que acabou por provocar em mim alguma reflexão. Principalmente porque conforme ia avançando eu ia ficando cada vez mais triste com aquela espiral negativa, mistura inescapável de personalidade, más companhias, ambiente e previsível contexto.
Eu conheci pessoas com muito em comum com a situação vivida pela protagonista Alex Russell (Margaret Qualley), não necessariamente relacionada com violência doméstica (embora também), mas como consequência de contínuas decisões desastrosas, péssimas influências, ambientes tóxicos e contextos incontroláveis. São pessoas permanentemente necessitadas e carentes, mas ao mesmo tempo individualistas radicais. Demorei imenso tempo a perceber que não me cabe a mim ajudar ninguém que não quer ser ajudado. Não me cabe a mim salvar ninguém adulto que não faz o mínimo trabalho introspectivo e o menor dos esforços para mudar de vida. Também apesar de não haver nenhuma relação, Nate (Raymond Ablack), o amigo de Alex que queria ser mais do que amigo mas se fartou de a ajudar sem esperar nada em troca, emprestando-lhe um carro, dando-lhe um tecto para viver, comida, cama e roupa lavada, lugar num bom infantário para a filha, sem nada exigir que não fosse consideração mínima, nem isso consegue. Uma mensagem que seja a dizer que não vai dormir a casa, quando está ele sozinho com o seu próprio filho e a tomar conta da filha de Alex, ela prefere estar na cama com um abusador que por acaso, inevitavelmente e previsivelmente, também é o pai da filha.
Parece ser algo universal em certas idades, deixam que qualquer bandalho faça delas gato sapato, quando aparece alguém decente ou lhes fazem o mesmo — porque desta vez podem —, ou fogem a sete pés e qualquer desculpa é boa (como poderia ser igual?). Depois um dia têm uma epifania, decidem que estão fartas de bandalhos (incrivelmente, nem todas), eventualmente descobrem Deus e querem um homem que assuma a responsabilidade — pelos erros delas e pelos filhos dos outros. Ainda esta semana ouvi isso no podcast da Mikhaila Peterson, também ela mãe solteira de 29 anos, mas uma raridade com poder de encaixe, capacidade para ouvir e perceber, de um convidado que não a poupou (ter o pai que tem deve ajudar muito).
Uma palavra para Paula Langley (grande papel de Andie MacDowell), a mãe de Alex, um nut job como já não me lembrava de ver no ecrã há muito tempo. Uma verdadeira artista.
Para série ☆ ☆ ☆ ½, não está mal. Também tem boa banda sonora e num dos últimos episódios fez-me voltar a ouvir música de Sharon Van Etten, o que neste novo sistema, são discos novos para mim. Tudo somado, acho que vale a pena ver.

TV em Dezembro

Publicado em 31/12/2021

The Handmaid’s Tale (primeira temporada, 2017)

Uma distopia sem qualquer interesse com toda a checklist das causas americanas do momento. Como se não bastasse, vive de flashbacks que é algo que verdadeiramente detesto e é para mim sinónimo de fraca escrita. Deu-me vontade de rever uma boa série. Criado por Bruce Miller.

Succession (primeira temporada, 2018)

Desde o primeiro episódio que dá para perceber o conjunto absolutamente apavorante de personagens que iremos seguir ao longo da série. Do idiota obnóxio ao simplesmente mau. Dentro de uma tradição de retratar os super-ricos como pessoas verdadeiramente horríveis, que eventualmente serão(?)… A primeira impressão é que para o J.R. Ewing não há um Bobby Ewing, são todos maus, mas é um mau diferente dos Sopranos por exemplo, onde o Tony e muitos outros eram pessoas que, em bom rigor, se podia confiar — nem sempre, mas entende-se, pelo menos havia um código. Aqui não há código. Criado por Jesse Armstrong.
☆ ☆ ☆ ☆

Succession (segunda temporada, 2019)

Não me lembro de ter visto uma série onde todos são reles. Não há uma única alminha penada que se aproveite. São todos francamente maus, mas a série é francamente boa e apresenta esta gente deplorável com uma aura de credibilidade bastante impressionante. E as nuances não são nada más. Criado por Jesse Armstrong.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Succession (terceira temporada, 2021)

A única coisa que sucede nesta série é a constante falsidade de todos os personagens, não há ninguém de confiança, lealdade mínima não existe no dicionário desta gente. Apesar de ser credível, vê-se em muitas instâncias como comédia. Como defesa da minha tese da maldade permanente, reparo desde a primeira época que há poucos iPhones ou Macs à vista, julgo que só a partir desta temporada, o que é absolutamente pouco credível para super-ricos, não por ser caro, mas por questões de privacidade e segurança… estamos mesmo a ver toda esta gente andar com Samsungs atrás. A verdade é que a Apple gosta pouco de ver os seus produtos colocados nas mãos dos “vilões” e tem um departamento legal algo poderoso.
Estava a ler na diagonal um texto de João Bonifácio no Observador e observo que realmente a série tem nuances que nem toda a gente entende, o que é uma das razões de ser boa. É irónico que Bonifácio não entenda inteiramente o diálogo que afirma definir a série e a forma óbvia como Logan usa qualquer pessoa — o avô dá a comida a provar ao neto para perceber se estaria envenenada — sim, estes personagens vão a esse ponto —, primeiro porque obviamente há uma hesitação e Kendall indica qual o prato dele (por questões de saúde sobre as quais informou o chefe previamente) e em segundo porque a reacção de Kendall não deixa qualquer dúvida ter visto o que eu vi. E francamente caro João Bonifácio, White Knight é cavaleiro branco, literalmente com a heroicidade e rectidão implicada na luta contra o mal, não “aristocrata a cavalo”. Depois há uma grande admiração de não se ler jornais, pudera, não se aprende nada há muitos anos e ainda nos arriscamos a ser desinformados. Criado por Jesse Armstrong.
☆ ☆ ☆ ☆

Klangor (2021)

Série polaca, nada má. Realizado por Lukasz Kosmicki.
☆ ☆ ☆ ☆

8 Zeugen (2021)

Em português “As Testemunhas”. Criado por Jörg Lühdorff.
☆ ☆

Unsere Wunderbaren Jahre (2020)

Em português “Os Nossos Anos Milagrosos” ou “Os Nossos Maravilhosos Anos” ou “Os Nossos Anos Maravilhosos”, o Filmin por vezes tem coisas que não se entendem, os detalhes contam. E no IMDB ainda há outro nome “Os Anos dos Milagres”. Realizado por Elmar Fischer.
☆ ☆ ☆ ☆

Maid (2021)

Acabei por escrever mais alguma coisa sobre esta série. Criado por Molly Smith Metzler.
☆ ☆ ☆ ½