Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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Cinema em Março

Publicado em 31/03/2023

The Swimmer (1968) (37)

Pode-se dizer que nunca vi nada igual, nem parecido, a meia estrela é por isso e pela incrível história. É um drama surrealista, uma alucinação do início ao fim, não se sabendo exactamente o que leva ao início, mas suspeitando que só pudesse acabar da forma que acabou. Um homem (Burt Lancaster) surge de calções de banho pela floresta e vai ter a casa de uns amigos que aparentemente não o viam há imenso tempo e mergulha na piscina. Ao saber que um dos vizinhos também construiu uma piscina, concluiu que poderia nadar até casa, de piscina em piscina, como se fosse num rio. É baseado na história The Swimmer de John Cheever, publicada na revista New Yorker em 18 de Julho de 1964. A filmagem foi atribulada, o realizador Frank Perry acabou despedido e o filme foi terminado por Sydney Pollack (sem créditos) que subtituiu alguns actores e filmou algumas cenas. Diz-se que para o final, Burt Lancaster pagou $10.000USD do seu bolso para que as filmagens pudessem acabar. Em português “Mergulho no Passado”. Realizado por Frank Perry.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

High Noon (1952) (38)

Em português “O Comboio Apitou Três Vezes”. Realizado por Fred Zinnemann.
☆ ☆ ☆ ☆

To Leslie (2022) (39)

Gostei imenso. É uma história muitas vezes contada, mas aqui está mesmo bem contada. Em português “Para Leslie”. Realizado por Michael Morris.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Hope Gap (2019) (40)

Fico sempre desapontado quando numa tradução de “retreat from Moscow”, num contexto de invasões napoleónicas, se lê “o abrigo de Moscovo”. São tradutores que não sabem sequer o que estão a ouvir. Brevemente serão todos substituídos por um qualquer ChatGPT, é uma profissão sem qualquer futuro. Em português “Uma Réstea de Esperança”. Realizado por William Nicholson.
☆ ☆ ☆ ☆

Moskva Slezam Ne Verit (1980) (41)

Ganhou o Óscar para o melhor filme estrangeiro e diz-se que foi o filme que mudou a opinião de Ronald Reagan sobre a Rússia, de “império do mal” para “eles afinal são como nós e podemos ser amigos”. Claro que a casa branca já não tem um homem como Ronald Reagan desde Ronald Reagan e pior que o que lá está agora, será virtualmente impossível (mas nunca fiando). Em português “Moscovo Não Acredita em Lágrimas”. Realizado por Vladimir Menshov.
☆ ☆ ☆ ☆

1984 (1984) (42)

Parece-me algo fraco, mas mesmo quem não leu o livro não pode deixar de pasmar com o que é semelhante ao que vivemos hoje. A grande diferença é o “estado totalitário” vs. “estado democrático”, mas o resto? É linda a destruição das palavras que está em curso, com os “portugueses” e “portuguesas”, com o dito acordo ortográfico rapidamente abraçado pelos habituais sectores e com as mentiras que são hoje permanentes; nesse sentido “a ignorância é força”, no filme a ignorância é imposta, no nosso sistema é uma ignorância ainda pior por ser voluntária; o que leva a algo que qualquer um pode observar, se quiser — “quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”; e a guerra não é para ganhar, mas para ser contínua (ou pelo menos, no caso presente, para prolongar o mais possível desde que os seus promotores arrisquem pouco e ganhem muito); etc, etc. Realizado por Michael Radford.
☆ ☆ ☆

Inherent Vice (2014) (43)

Chego à conclusão que não gosto demasiado de realizadores estilizados como Paul Thomas Anderson — de Tim Burton cansei-me, Tarantino já não suporto, Wes Anderson já me satura… Em português “Vício Intrínseco”. Realizado por Paul Thomas Anderson.
☆ ☆ ☆

Un Beau Matin (2022) (44)

Nunca me desilude a Mia Hansen-Løve, mais um filme incrível. A moral da história é que colhemos o que semeamos, nem sempre, mas a maior parte das vezes. A Léa Seydoux está por todo o lado e cada vez melhor. Em português “Uma Bela Manhã”. Realizado por Mia Hansen-Løve.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Tár (2022) (45)

Não é habitual eu rever um filme passado tão pouco tempo, revi este porque não só é muito bom, como fiquei com a sensação que vários detalhes me tinham escapado. E é verdade, escaparam, não vou me alongar para não dizer demais. Apesar de dar a mesma avaliação, ainda gostei mais de ver esta segunda vez e acrescento que a primeira foi no cinema, a segunda em casa. Realizado por Todd Field.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Je Tu Il Elle (1974) (46)

Realizado por Chantal Akerman.
☆ ☆

La Loi du Marché (2015) (47)

É o primeiro da “trilogia do trabalho” e planeava ver os três, mas perdi o interesse. Em português “A Lei do Mercado”. Realizado por Stéphane Brizé.
☆ ☆

Hilma (2022) (48)

É um projecto familiar, com a mulher e a filha do realizador, mas pouco mais. Realizado por Lasse Hallström.
☆ ☆ ☆

Grey Gardens (1975) (49)

Documentário sobre Edith Ewing Bouvier Beale e a filha Edith Bouvier Beale, cujos únicos feitos aparentemente foram viver numa mansão que negligenciaram até uma decadência selvagem traduzida no jardim transformado numa autêntica selva ao ponto de as autoridades lhes dizerem, ou limpam, ou são postas fora; a filha ser prima direita de Jacqueline Onassis que acabou por pagar a limpeza e as obras na casa; e serem completamente excêntricas. Há um outro documentário de 2006, The Beales of Grey Gardens, que parece ser com filmagens não utilizadas neste. Ia ver, mas perdi o interesse. Realizado por Ellen Hovde, Albert Maysles e David Maysles.
☆ ☆ ☆

Cinema em Março

Publicado em 31/03/2022

O meu mês cinematográfico andou praticamente todo de volta de Joachim Trier, porque considerei “A Pior Pessoa do Mundo” um achado e acabei por descobrir que ele toca as teclas certas quase todas (as minhas pelo menos). Li críticas, entrevistas, explorei as bandas sonoras e referências cruzadas (o George Kukor e outros irão ficar para Abril provavelmente). Foi um mês muito proveitoso e ainda podia ter sido mais, falta sempre aquela alma gémea que se interessa pelas mesmas coisas. Há muita gente que se interessa pelas mesmas coisas, não faltam milhões a viver exactamente a mesma vida, mas de alguma forma tantas pessoas parecem conseguir fazer o mais difícil, conseguem durante a esmagadora maioria do tempo andar sempre desencontradas.

Doraibu mai kâ (2021) (20)

Este filme é baseado num livro de Haruki Murakami que ainda há pouco tempo tive na mão e não me interessou (nunca li nenhum do autor). A mulher de um encenador depressivo morre subitamente sem ter revelado aquilo que parece ser um segredo da sua vida. Numa jornada de quase três horas, rapidamente se entre no ritmo dos filmes japoneses, como se as angústias do mundo moderno decorressem à velocidade do antigamente. Adoro o título original, uma espécie de fonética para “Drive My Car”. Em português “Conduz o Meu Carro”. Realizado por Ryûsuke Hamaguchi.
☆ ☆ ☆ ☆

Verdens Verste Menneske (2021) (21)

Seguimos quatro anos da vida de Julie (Renate Reinsve), que francamente, podiam ser dois, não me apercebo ao ver o filme que sejam quatro, deve ser coisa da sinopse. É uma mulher de cerca de trinta anos que não sabe o que quer, começa o filme como estudante de medicina porque seria o curso em que fazia valer a sua excelente média — embora me pareça já demasiado velha para tão brilhante percurso —, mas afinal gosta mais de psicologia, fotografia, de escrever… Afinal, tanta capacidade e trabalha numa livraria universitária, mas não se coíbe de vaticinar o futuro a um dos namorados — que vai tirar cafés até aos 50, enquanto em meia-dúzia de palavras lhe passa um monumental diploma de ignorância. Felizmente, na Noruega ganha-se bem nas livrarias e a tirar cafés.
Mas antes, depois do percurso de promiscuidade pós-moderna habitual, tem um namorado que gosta imenso dela, quer filhos, uma vida em comum, um futuro. Não é coisa que tenha grande valor para quem ainda está a “viver a vida” livremente. Infelizmente, estas pessoas andam em luta com o mundo, mas o mundo é grande e os seus representantes são quem as conhecem, especialmente os mais próximos, então a luta é com esses, que acabam por ser as vítimas de algo que não chegam sequer a entender. Não dá valor a nada, não dá valor ao que tem, o importante é só fazer aquilo que quer, que também não sabe exactamente o que é. Se por acaso a vontade coincide com a dele, também é motivo de discussão, porque é motivo de desconfiança — até umas curtas férias com as quais concordou é “nos termos dele”. Numa vida descontrolada, o valor essencial é manter o controlo nem que seja, ou essencialmente, no que é insignificante; numa vida desequilibrada, o valor essencial é manter o equilíbrio, nem que seja desequilibrando tudo e todos à sua volta.
O par Julie e Aksel (Anders Danielsen Lie) é extremamente credível, há uma química permanente sem nunca chegar a estar tudo realmente bem. Portanto à segunda oportunidade (a primeira ela vai à procura, numa festa e é um tratado, movido a álcool), Julie envolve-se com o dos cafés, Eivind (Herbert Nordrum), obviamente mentindo a Aksel sobre as suas verdadeiras motivações — que em bom rigor, exceptuando o ser novidade, nem ela faz uma vaga ideia quais sejam (mesmo assim, obviamente que mentiu e só lhe diz a verdade já ele está às portas da morte). Do pouco que sabemos de Eivind, é que não quer filhos, portanto adivinha-se perfeitamente o que acontece a seguir. É espantoso — eu também acho.
Julie não é livre como ela própria parece julgar, está presa entre a infantilidade que resta da juventude e a maturidade que tarda em chegar. Sente no horizonte aquela luz das promessas a extinguir-se lenta mas definitivamente, que também vai mudando com cada nova escolha e decisão. Não a torna a “pior pessoa do mundo”, mas de individualista não se escapa.
O filme está extremamente bem feito, a sobreposição da narradora ao que eles próprios dizem, tal como a banda sonora, está ao nível de Endings, Beginnings (que ironicamente, ou sem ironia nenhuma, acaba por ser também um filme sobre uma mulher desnorteada, mais ou menos desta idade) e gostei do facto de não serem más pessoas, apesar do título se referir obviamente exageradamente a ela.
Podia ser ainda melhor, mas não gostei do final que acho à medida, com certas peças em certos lugares extremamente improváveis que retiram muita da credibilidade conquistada desde o início. Devia ter acabado minutos antes quando ela sabe que Aksel já não passará daquela noite, mas por alguma razão foi importante mostrar uma moral da história (óscares?), que ela amadureceu, encontrou uma vocação, que eventualmente terá deixado de ser a egocêntrica que sempre foi. Que tem a vida toda à sua frente.
Em português “A Pior Pessoa do Mundo”. Realizado por Joachim Trier.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Licorice Pizza (2021) (22)

Realizado por Paul Thomas Anderson.
☆ ☆ ☆ ½

Oslo, 31. August (2011) (23)

Julgava que este era o segundo filme que via com Anders Danielsen Lie, mas afinal também o tinha visto no “Bergmann Island” (de Mia Hansen-Løve), o meu filme preferido do ano passado e pelos vistos, igualmente no “Personal Shopper” (de Olivier Assayas). Lie estudou grego antigo, música e medicina (é médico, em Oslo), além disso é um actor espantoso. Renate Reinsve também aparece fugazmente, mal se adivinhando o que viria a ser em “A Pior Pessoa do Mundo” — e por falar nisso, ainda gostei mais deste. É um filme excelente. Em português “Oslo, 31 de Agosto”. Realizado por Joachim Trier.
☆ ☆ ☆ ☆ ☆

Reprise (2006) (24)

Realizado por Joachim Trier.
☆ ☆ ☆ ☆

Louder Than Bombs (2015) (25)

Em português “Ensurdecedor”. Realizado por Joachim Trier.
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Thelma (2017) (26)

Realizado por Joachim Trier.
☆ ☆ ☆ ☆

Titane (2021) (27)

Há excelentes referências relativamente a este Titane, mas para mim é coisa para os primórdios do Fantasporto, ou seja, um bizarro a que já não ligo patavina. Tem vários excelentes momentos, como por exemplo o da festa nos bombeiros, com a música Light House dos Future Islands. Realizado por Julia Ducournau.
☆ ☆ ☆

Le Rayon Vert (1986) (28)

Realizado por Éric Rohmer.
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Ma Nuit Chez Maud (1969) (29)

Realizado por Éric Rohmer.
☆ ☆ ☆ ☆

Serre Moi Fort (2021) (30)

Realizado por Mathieu Amalric.
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Gûzen to sôzô (2021) (31)

Não sou apreciador de curtas metragens coladas como se fosse um filme, mas gostei imenso destas porque como histórias curtas são excelentes. O início de uma relação que afinal é com o antigo namorado da melhor amiga, a sedução de um escritor e professor universitário com uma vingança maldosa e um engano honesto com consequências desastrosas e o reencontro, passados 20 anos, de duas amigas de escola que afinal não são elas e nem se conheciam sequer. São histórias no feminino, completamente inverosímeis, mas contadas de uma forma que ficamos com a ideia que poderão acontecer a qualquer pessoa uma vez na vida. Em português Roda da Fortuna e da Fantasia. Realizado por Ryûsuke Hamaguchi.
☆ ☆ ☆ ☆ ½