Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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A Pior Pessoa do Mundo

Publicado em 12/03/2022

É o título de um filme de Joachim Trier, que implica algum humor e muita auto-depreciação nórdica, tradução literal de uma máxima “verdens verste menneske”, que os noruegueses dizem de si próprios quando fazem algo um bocadinho aquém das suas próprias expectativas. Sendo um bom filme é natural que existam várias interpretações e pontos de vista, mas as distâncias percorridas para encontrar nas personagens masculinas a tal pior pessoa do mundo, mais do que espantoso, é patético. Não há nenhuma pior pessoa do mundo neste filme, nem Julie a quem se refere o título e mesmo que seja isso que ela pense de si própria de cinco em cinco minutos, o mesmo tempo que demora livremente a mudar de personalidade.

The title is very Norwegian—it’s a direct translation of a catchphrase, verdens verste menneske. If you feel you’re not living up to your expectations or if you’ve done something to hurt someone, even [accidentally], you say, “I’m the worst person in the world.” The title is funny, given that this is a movie about love and romance, when you’re trying to find the best person in the world. There’s a lot of self-deprecation in Norway.

—Renate Reinsve, Vogue

It was the title of one of the chapters first, and then they used it as the title of the movie. A very important aspect was that she couldn’t accept herself, and that she didn’t like herself and her choices.

—Renate Reinsve, Interview

(…) in this film, we play with the metaphor of wanting to escape time to experience an alternate version of love—finding formal ways to do that, and letting form be a fun, involving, playful mechanism rather than an alienating, cold one. The idea is to use the language of cinema to be as free as the character Julie, who changes her identity every five minutes.

—Joachim Trier, Film Comment

Não é pior

Publicado em 13/01/2021

Todos os seres humanos tentam criar um mundo em que possam viver, e o que não podem usar muitas vezes não vêem. Mas o mundo real já está criado, e se a invenção não lhe corresponde, mesmo que nos sintamos nobres e insistamos no facto de ter de haver algo melhor do que aquilo a que as pessoas chamam realidade, essa coisa melhor não necessita de tentar exceder aquilo que, no mundo real, pode ser muito surpreendente, já que o conhecemos tão mal. Se é um feliz estado de coisas, é surpreendente; se triste ou trágico, não é pior do que aquele que nós inventamos.

—Saul Below, As Aventuras de Augie March, Quetzal 2010

2022 –> 2023

Publicado em 31/12/2022

Em cinema não foi mau, se exceptuarmos o facto de ter visto apenas um no cinema (Bones and All). Não me importo, porque tenho óptimas condições para o meu gosto. O filme que gostei mais… é sempre difícil… mas destaco por exemplo Martha Marcy May Marlene, Decisão de Partir, o meu ciclo Éric Rhomer, Les Salauds, Corpo e Alma, Murina (estes dois de duas realizadoras a seguir de perto Ildikó Enyedi e Antoneta Alamat Kusijanovic), claro que também A Pior Pessoa do Mundo e o meu único cinco estrelas do ano Oslo, 31. August (ambos de Joaquim Trier, que passou a um dos meus realizadores favoritos), 303 e por fim o documentário Echo In the Canyon.
Foi um ano fraco para séries televisivas. Vi muito poucas, vou-me dedicar mais ao assunto para o ano.
Em 2023 não vou fazer a lista de discos que compro, dá demasiado trabalho e não me serve para muito. Que discos destacar… Matthew Halsall & The Gondwana Orchestra, especialmente Into Forever que é mesmo um disco maravilhoso. Todos da Gondwana Records e muito mais, foi um bom ano. Compro menos da Blue Note, designadamente Tone Poets, porque o espaço começa a faltar e o tempo parece cada vez menos. Comprei mais de 200 discos, considerando as caixas e que mais de metade são duplos, são seguramente mais 400 discos para ouvir. Em 2023 quero comprar menos discos, mas estão sempre a aparecer coisas interessantes.
Mesmo assim vou fazer um mini top, não necessariamente de títulos relevantes em 2022, apenas relevantes para mim:

  • Doors — L.A. Woman Sessions
  • GoGo Penguin – V2.0 Special Edition
  • Jenny Hval — Classic Objects
  • Matthew Halsall & The Gondwana Orchestra – Into Forever
  • Mavis Staples – We’ll Never Turn Back
  • Phil France — Circle
  • Svaneborg Kardyb — Over Tage
  • The Story of Philadelphia International Records

E há alguns que se fosse hoje não teria comprado, Alisson Krauss, Robert Plant — Raise the Roof, Rolling Stones — El Mocambo, Rolling Stones — Licked Live in NYC, Neil Young — After the Gold Rush 50th Anniversary (pelo preço estúpido), Doug Carn, Ali Shaheed Muhammad & Adrian Younge — Jazz Is Dead 5, Jason Isbell and the 400 Unit — Reunions, Kurt Vile – (Watch My Moves), Martin L. Gore — Counterfeit EP, Tim Hecker — The North Water Original Score, Yello — Point, mais uns CDs dos baratos (não é significativo) e pouco mais. Gostava de acertar em todos, mas é pouco provável.

Uma das surpresas negativas foi ter descoberto que não há reedição ou remasterização em vinil que chegue à edição original do país de origem. As master tapes estão novas, o trabalho sendo bem feito, dificilmente voltará a ser igualado 40 ou 50 anos depois, já com a fita a acusar a idade — ou seja, degradada, designadamente nas frequências mais altas e mais baixas — os detalhes que fazem a diferença e enchem de ar uma gravação. Eu achava, até pelo preço dessas reedições, que seriam superiores — mas nem o Thriller de Michael Jackson One-step da Mofi, supera a primeira edição americana. E a mesma Mofi, também esteve envolvida no escândalo dos discos totalmente analógicos que afinal quase sempre foram digitais. E ironicamente essa lebre que os insiders quase de certeza sempre souberam, foi levantada exactamente pelo One-step do Michael Jackson e a quantidade prensada, 40.000. O que teoricamente obrigaria a 40 passagens das master tapes, isto se não existissem erros. Enfim, o mercantilismo americano no seu pior.

Mavis Staples

A tocar Mavis Staples, We’ll Never Go Back.

Na frente Hi-fi, tudo bem, a aparelhagem deu um salto enorme. Para o ano quero novos cabos de coluna Siltech, a caixa de terra de sinal Entreq, experimentar também da Entreq um kit de terra de sinal de ligação às colunas… e talvez a máquina de limpeza Degritter Mark II. Como já sei o efeito dos dois primeiros, ficava satisfeito só com isso. A ver vamos que crise se vai instalar em 2023…
Saídas, praticamente nenhumas. Fui à Holanda o que foi excepcional (e graças a Deus, excepcionalmente bom) e gostei muito de ter ido ver a Jenny Hval a Espinho.
Acho que li poucos livros, embora tenha lido muito de outras coisas. Não consegui manter o ritmo do ano passado e acabei a ler bastante “não ficção”. Gostei muito do How to Change Your Mind de Michael Polan. Na ficção gostei de All My Friends Are Going to Be Strangers de Larry McMurtry. E ainda estou a ler “Mapas do Sentido” de Jordan Peterson, que é enorme com longas passagens que me interessam e outras tantas que me interessam menos. E foi assim, esta parte que documento do meu ano.

Cinema em Outubro

Publicado em 31/10/2022

Le Skylab (2011) (85)

Em português “O Verão do Skylab”. Realizado por Julie Delpy.
☆ ☆ ☆ ½

Kakushi-toride no san-akunin (1958) (86)

Em português “A Fortaleza Escondida”. Realizado por Akira Kurosawa.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

De uskyldige (2021) (87)

A referência que tinha é que é de um dos argumentistas de “A Pior Pessoa do Mundo”, junto com Joachim Trier com quem costuma trabalhar. É bastante melhor do que eu deixo antever, para quem gostar do género. Em português “Os Inocentes”. Realizado por Eskil Vogt.
☆ ☆ ☆

Tytöt tytöt tytöt (2022) (88)

Em inglês “Girl Picture”. Realizado por Alli Haapasalo.
☆ ☆ ☆

Clímax (2022) (89)

Realizado por Gaspar Noé.
☆ ☆

Dans La Maison (2012) (90)

Este é um filme que revi sem me aperceber imediatamente de tal coisa, mas já o tinha visto em 2016, com as mesmas quatro estrelas, mas embora não chegando a mais meia estrela, gostei mais do que da primeira vez. O que não gostei demasiado, foi do fim. Mas é um filme muito bom, com uma ambiguidade onde acaba a realidade e começa a fantasia, tal como onde acaba a ética e começa o voyeurismo. Tem imensos bons momentos, aliás, traduzi alguns em diversos posts durante o mês. Em português “Dentro de Casa”. Realizado por François Ozon.
☆ ☆ ☆ ☆

Frantz (2016) (91)

Realizado por François Ozon.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Transit (2018) (92)

Em português “Em Trãnsito”. Realizado por Christian Petzold.
☆ ☆ ☆ ½

Une Nouvelle Amie (2014) (93)

Em português “Uma Nova Amiga”. Realizado por François Ozon.
☆ ☆ ☆

L’Amant Double (2017) (94)

Em português “O Amante Duplo”. Realizado por François Ozon.
☆ ☆ ☆ ☆

Playlist (2021) (95)

Em português “O Amante Duplo”. Realizado por Nine Antico.
☆ ☆ ☆

Guess Who’s Coming to Dinner (1967) (96)

Em português “Adivinha Quem Vem Jantar”. Realizado por Stanley Kramer.
☆ ☆ ☆ ☆

Suddenly, Last Summer (1959) (97)

Uma das cenas finais (spoiler), aparentemente filmada em Espanha, recordou-me aquela espanha tenebrosa com gente perturbadora das fotografias de Frank Capa. Maltrapilhos que acabam a devorar (literalmente) o poeta milionário e diletante. Há uma Espanha que de facto, não gosto. Em português “Bruscamente, No Verão Passado”. Realizado por Joseph L. Mankiewicz.
☆ ☆ ☆ ☆

Gilda (1946) (98)

Realizado por Charles Vidor.
☆ ☆ ☆ ☆

The Eiger Sanction (1975) (99)

Realizado por Clint Eastwood.
☆ ☆ ☆

AKibiyori (1960) (100)

Gostei de todo o ambiente, as cores da época são incríveis. A ocidentalização, ou ocupação do Japão estava talvez no auge… A moda, as gravatas, o cachimbo, muitas das bebidas… Até os livros para crianças mostrados são Disney. Em português “O Fim do Outono” (muito apropriado). Realizado por Yasujirô Ozu.
☆ ☆ ☆ ☆

Cinema em Julho

Publicado em 31/07/2022

Este mês parece dedicado a Éric Rhomer e foi suficientemente interessante. Tudo começou com “A Pior Pessoa do Mundo” de Joachim Trier, que cita “O Raio Verde” (que também vi em Março) como uma das influências. Também aproveitei para completar a filmografia de Mia Hansen-Løve e não é coincidência também referir “O Raio Verde” como uma das suas grandes influências.

Le genou de Claire (1970) (48)

Em português “O Joelho de Claire”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆

Conte d’été (1996) (49)

Gostei imenso deste filme, talvez mais até por ser Verão, de tal forma que vou ver os outras contos na estação do ano respectiva. Amanda Langlet é muito expressiva e magnífica. Em português “Conto de Verão”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Pauline à la plage (1983) (50)

Os actores e principalmente actrizes dos filmes de Éric Rhomer, não parecem verdadeiros actores, parecem pessoas normais, mas invariavelmente com interesse. Verificando na IMDB, muitos nem fotografia têm e em poucos filmes participaram. Amanda Langlet, aqui muito mais nova, mas já muito expressiva, terá participado numa dezena de filmes e pouco mais. Talvez tenha feito carreira no teatro. Em português “Pauline na Praia”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆

L’amour, l’après-midi (1972) (51)

Parece que Éric Rhomer tentou provar com a sua obra, uma “tese” que eu próprio já imaginei — que há uma dúzia de vidas a serem vividas, se tanto, e repetidas vezes sem conta através dos tempos e que aquilo que muitas vezes nos parece único, é na verdade de uma banalidade assustadora. Os filmes absorvem-nos nessa banalidade, vêmo-nos ali. São filmes inegavelmente interessantes e reflectores. Em português “O Amor às Três da Tarde”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

L’ami de mon amie (1987) (52)

Parte da série de ditos e provérbios, o deste é “anigo do meu amigo, meu amigo é”, o que evidentemente está longe de ser verdade. Em português “O Amigo da Minha Amiga”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆

Les nuits de la pleine lune (1984) (53)

O provérbio apresentado é “quem tem duas mulheres perde a alma, quem tem duas casas perde a cabeça”, não é assim que o conheço — quem perde a alma é quem tem duas casas. É a história de uma mulher que quer uma relação estável nos subúrbios, sem deixar de ter o seu apartamento em Paris, as suas saídas e as suas festas. Parece que não corre lá muito bem porque quando se coloca em causa o que está socialmente aceite e por vezes demorou milhares de anos até apresentar a forma que conhecemos, é necessário ter cuidado e saber-se muito bem que jogo se vai jogar. Um ditado melhor para este filme até seria “quer Sol na eira e chuva no nabal”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆

Le beau mariage (1982) (54)

Em português “O Bom Casamento”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ½

Figli (2020) (55)

Em português “Manual de Sobrevivência Para Pais”. Realizado por Giuseppe Bonito.
☆ ☆

Tout est pardonné (2007) (56)

A primeira longa metragem de Mia Hansen-Løve e já com aquele ritmo que me faz gostar imenso.
☆ ☆ ☆ ☆

Le père de mes enfants (2009) (57)

Esta é a segunda longa metragem de Mia Hansen-Løve e assim, já vi todas. E não sendo um mau filme, gostei menos do que o costume. No anterior, achei que tudo o que gosto nos filmes dela já estava em movimento, neste nem tanto.
☆ ☆ ☆ ½

Les rendez-vous de Paris (1995) (58)

Funciona quase como um guia turistico (interessante) de Paris, principalmente o segundo conto. Em português “Os Encontros de Paris”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆

Blue Valentine (2010) (59)

As expectativas devem ter funcionado contra mim, porque julguei mesmo que ia gostar mais. Ryan Gosling e Michelle Williams estão incríveis, mas é pouco. Há sequências óptimas, mas também é pouco. Não vi nada que sobressaísse realmente de tudo que já vi anteriormente e como é sabido, raramente gosto de flashbacks, que considero uma fraca solução para se contar uma história — que era exactamente necessário saber? Que aquele casal destroçado esteve em tempos (não há muito tempo) muito apaixonado?
Com todos os defeitos, quando ela desiste do aborto é ele que está lá para abraçar e estaria de qualquer forma. O facto é que ele casa com ela e é um pai a valer para uma filha que sabe que provavelmente nem é dele. É ele que tenta introduzir alguma alegria no casamento. É ele que de forma desastrada marca uma noite num motel, no “quarto do futuro”, já quando não há qualquer futuro. Por essa altura começava a beber às oito da manhã e ela tinha desistido há muito. Em português “Blue Valentine – Só Tu e Eu” (e o autor do título!). Realizado por Derek Cianfrance.
☆ ☆ ☆

Ghahreman (2021) (60)

Os telemóveis, as mensagens, os vídeos, as “redes sociais”, todo esse mundo que está a destruir o mundo e a semear, em alguns casos já a cultivar, todas as sementes para um futuro miserável. As mentiras, as meias-verdades piores que as mentiras, a permanente desconfiança do próximo… Que filme assombroso, do início ao fim. Em português “Um Herói”. Realizado por Asghar Farhadi.
☆ ☆ ☆ ☆ ☆

A Bridge Too Far (1977) (61)

Não há nada como um filme de guerra para animar as hostes, mas não animou muito, é bastante fraco, até pateta por vezes… Mas resolvi rever. Em português “Uma Ponte Longe Demais”. Realizado por Richard Attenborough.
☆ ☆ ☆

La Collectionneuse (1967) (62)

Em português “A Coleccionadora”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ½