Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

Pareciam

Publicado em 28/01/2025

Agora recolhia na memória cada uma das palavras que ele me dissera e procurava ver se havia amor nelas, agarrava naquelas palavras todas e dava-lhes voltas e voltas dentro de mim, e a certa altura pareciam ter um significado e logo a seguir significavam outra coisa e por fim largava-as e toldavam-se-me os olhos.

—Natalia Ginzburg, Foi Assim, Relógio D’Água 2023 (1947)

Tanka

Publicado em 25/01/2025

Soube da existência de Fumiko Nakajō ao ter visto o filme “Para Sempre Mulher” de Kinuyo Tanaka. Foi uma poetisa japonesa que morreu em 1954 com apenas 31 anos e que escrevia um estilo de poesia chamado Tanka.
No Japão, é uma forma tradicional de poesia já com mais de 1.300 anos e ainda hoje respeitada. Originalmente escrita numa linha só, actualmente consiste em cinco linhas com um padrão silábico 5-7-5-7-7, num total de 31 sílabas. Ao contrário dos Haiku concisos e frequentemente focados na natureza, estes poemas têm um carácter mais pessoal, expressando sentimentos profundos, reflexões e experiências. Combinando frequentemente imagens com emoção, permitindo aos poetas explorar temas como o amor, a perda e a beleza, de forma breve mas evocativa.

Uma Espécie

Publicado em 24/01/2025

— Talvez também viesses a gostar de mim aos poucos — disse-me. — Mas não vale a pena falar disso agora. Falar faz doer ainda mais. Acabou. Vês, estou aqui perto de ti, mas não encontro mais nada para te dizer. Gostava de fazer alguma coisa por ti, para te ajudar, mas ao mesmo tempo tenho uma espécie de vontade de me ir embora e de não ouvir mais falar de ti.

—Natalia Ginzburg, O Caminho da Cidade, Relógio D’Água 2024 (1942)