Este ano vi uma quantidade razoável de filmes, mas mais uma vez preferia ver menos, retirando os maus. São menos de dois por semana, não é nenhum exagero, de qualquer forma se para o ano vir a mesma quantidade, ficarei contente. O que gostei mais foi “A Ilha de Bergmann”, por vários motivos — a companhia, as circunstâncias e o momento contam muito. E gosto da Mia Hansen-Løve.
Televisão a mesma coisa, mas acho que cada vez mais é mais fácil ficar satisfeito com uma boa série do que com um bom filme. Uma série aprofunda as personagens de uma forma que o cinema raramente ou nunca consegue e quando gostamos mesmo, em vez de duas horas temos dezenas e dezenas. Tem a outra face dessa moeda — as tais dezenas e dezenas de horas.
Li imenso, se conseguir manter o ritmo já me dou por feliz. Gostei muito de “The Last Picture Show” (também do filme) e tenho vários também de Larry McMurtry para ler. Mas gostei de muitos outros, acho que não li nenhum livro que não tivesse valido a pena a não ser ironicamente um de Philip Roth, um dos meus autores preferidos, o “Operação Shylock”.
Uma coisa que quero mesmo em 2022 é comprar menos discos (vinil). Se calhar comprei 300 (ou mais) este ano, não faz sentido porque não sou coleccionador e não passo os dias a ouvir música. Praticamente podia ter ouvido um disco novo por dia e o que acontece é que tenho muitos por ouvir e muitos outros que foram ouvidos uma vez ou pouco mais — não gosto de ouvir só os novos. Numa nota positiva, praticamente todos são grandes discos. É verdade que é na música que mais sinto a benção e a maldição da época em que vivemos, com acesso ao que de melhor se fez nos últimos muitos anos, com uma qualidade espantosa. Tem sido editada e re-editada uma quantidade inacreditável de música.

Fujiya & Miyagi

A tocar Fujiya & Miyagi, Artificial Sweeteners.

De resto, estou bem assim. Nunca estive “confinado” — só a palavra já me enerva —, mas não sinto qualquer falta de sair de casa para vida social ou cultural, sempre os mesmos e invariavelmente sem qualquer interesse. Se há coisa que este Sars-Cov-2 confirmou, foi isso — a completa falta de interesse de muito o que se tem por indispensável. Meia-dúzia de idas ao cinema chega-me bem para dois anos inteiros. Gosto de estar em casa, tenho planos e em que pensar, é em casa que me sinto bem.