
— Podemos achar alguém interessante, sem ele saber que é interessante. Aliás, muitas vezes, as pessoas que se acham interessantes, não são. Não achas?
Les Choses qu’On Dit, les Choses qu’On Fait (2020) de Emmanuel Mouret.

— Podemos achar alguém interessante, sem ele saber que é interessante. Aliás, muitas vezes, as pessoas que se acham interessantes, não são. Não achas?
Les Choses qu’On Dit, les Choses qu’On Fait (2020) de Emmanuel Mouret.
Depois de Normal People, mais uma adaptação para série televisiva de um livro de Sally Rooney. Não sou grande apreciador dos livros, mas aparentemente sou das séries baseadas neles. É tudo “muito moderno”, mas mais uma vez o que me pasma é a simplicidade e naturalidade dos diálogos. Talvez sejam tão naturais por serem tão simples. A relação entre Frances e Nick consegue ser super intensa falando eles realmente pouco. Percebe-se a gradual desintegração de Frances à medida que a relação com Nick evolui, é um paradoxo facilmente explicável por ele ser casado, mas Nick, a única coisa que teria para de facto lhe pedir desculpa é gostar mesmo dela. O oposto não é exactamente verdade, pois Frances consegue ir a extremos de se inscrever no Tinder e ir para a cama com o primeiro palerma que lhe aparece, apesar do indivíduo gostar de Yates — sim, é sempre uma douta “grande conversa” — e do qual certamente nem o nome ficou a saber, no fim tendo-se esgueirado para fora de casa numa espécie de “walk of shame”. Claro que informa Nick do grande feito na primeira oportunidade, era esse o objectivo — noutras ocasiões, quando devia dizer a verdade, mente. É complicado. Eu tenho uma teoria que entretem a hipótese de existirem uma dúzia de vidas a ser vividas, sempre repetidas ao longo dos tempos e em todas as épocas — a verdade é que toda a gente acaba a fazer o mesmo. Nick só não está presente quando não pode, diz ele — I have this impulse to be available to you. All the time. —, mas quem se queixa da falta de reciprocidade é ela, esquecendo-se que quando se envolveram já ele era casado, não se foi casar só para a chatear, aliás, nem sabia que ela existia.
A partir do nono episódio as coisas tornam-se menos interessantes, mais previsíveis, embora não menos intensas. Frances é uma daquelas pessoas honestas que mente sempre sem necessidade, não resolvendo problema nenhum e criando mais uns quantos nesse processo. A modernidade toda faz finalmente a sua aparição mais explícita, a relação continua com o consentimento da mulher de Nick, mas fosse tudo assim tão simples. No fim, volta ao seu amor “não patriarcal”. Mas fosse tudo isso também assim tão simples.
Gostei imenso de Frances, a incrível estreante Alison Oliver, entre o desajeitado (mesmo fisicamente) e o melancólico. A banda sonora é, como seria de esperar, perfeita — na imagem que escolhi, está a tocar PJ Harvey, é um grande ambiente. Também gostei (bastante) da não utilização do agora cliché de mostrar as mensagens no ecrã, com um tipo de letra duvidoso e uns ruídos de mensagem… A solução de as mostrar no próprio telemóvel, nem que seja fugazmente retirando-se o significado pelo contexto, está muito boa. Aliás, a série está muito boa. À partida não haverá uma segunda temporada (baseada no livro pelo menos), o que será o ideal. Realizado por Lenny Abrahamson e Leanne Welham.
☆ ☆ ☆ ☆ ½
Mais um documento desta época de deplorável decadência e onde as dores de crescimento, a dificuldade em ser adolescente é exacerbada por questões periféricas que afectarão uma diminuta minoria, mas são sempre colocadas como se fossem universais. Vale pelo olhar para dentro de uma das 800 bases americanas no mundo, neste caso em Chioggia, Itália — comandada por uma lésbica (não ia inventar esta). Os soldados americanos onde se instalam levam a América atrás de si, com a junk food, o ar condicionado, a falta de valores, a corrupção, a hipocrisia, a droga, os talheres e pratos de plástico, e a cultura de fancaria. Independentemente de questões de género, casamento homossexual, politicamente correcto ou incorrecto, uma das coisas que saltam à vista é o mais completo desrespeito do excêntrico Fraser (Jack Dylan Grazer) pela sua mãe Sarah Wilson (Chloë Sevigny), a tal comandante da base. Que mundo miserável onde os filhos tratam assim as mães. O melhor desta série é o final, os últimos 10 minutos (sem ironia), onde sem diálogo se consegue uma sequência muito bonita e um belo final, muito bem acompanhado por uma música de Prince (The love We Make). Criado por Sean Conway, Paolo Giordano e Luca Guadagnino.
☆ ☆ ☆
Até pode ser uma historinha, mas para mim, começou bem o ano cinematografico e a Fanny Ardant, magnífica. Em português “Os Jovens Amantes”. Realizado por Carine Tardieu.
☆ ☆ ☆ ☆
Mais lixo de Hollywood. Realizado por Rian Johnson.
☆ ☆
Em português “Crepúsculo”. Realizado por Michel Franco.
☆ ☆ ☆ ☆
Realizado por Michel Deville.
☆ ☆ ☆ ½
Muito bom filme de acção, mas a certa altura torna-se difícil de seguir, a ideia é óptima mas de complicada execução, embora Nolan ande a jogar com o passado e este tipo de narrativas complexas há anos. Realizado por Christopher Nolan.
☆ ☆ ☆ ☆
A beleza de Gene Tierney é espantosa, os argumentos destes filmes não o são menos. Realizado por John M. Stahl.
☆ ☆ ☆ ☆ ½
Realizado por Raoul Walsh.
☆ ☆ ☆ ☆ ½
Em português “A Rapariga e a Aranha”. Realizado por Ramon Zürcher e Silvan Zürcher.
☆ ☆ ☆ ☆
Realizado por Vincent Maël Cardona.
☆ ☆ ☆ ½
Em português “Sonhos Cor-de-Rosa”. Realizado por Marco Bellocchio.
☆ ☆ ☆ ☆
Em português “O Traidor”. Realizado por Marco Bellocchio.
☆ ☆ ☆ ☆
Revi e até escusava, porque já tinha visto em 2016 e não chegou a um quatro. Fico sempre pasmado como agora não me lembro de nada dos filmes — nem da história, nem de personagens, nada. Às vezes é a música que me faz recordar, desta vez desconfiei que o tinha visto numa única cena violenta. Em português “Ruína Azul”. Realizado por Jeremy Saulnier.
☆ ☆ ☆ ½
Film Noir francês, nada de especial, embora tenha gostado do ambiente nocturno de Manhattan e principalmente, da música. Em português “Dois Homens em Manhattan”. Realizado por Jean-Pierre Melville.
☆ ☆ ☆
Optimista e bonito, com algumas doses de realismo e sequências muito boas. Mesmo quem não tenha estudado italiano sabe que o título em português não é a tradução do título original, mas a frase é utilizada várias vezes durante o filme e traduzida incompreensivelmente da mesma forma. Há uma decadência da tradução que dura há décadas, mais vale estar imerso no filme do que na tradução, senão as más surpresas sucedem-se. Mas traduzir Plinius por Plyni (refere-se ao romano Plínio, o velho) é francamente bizarro, deixando antever que a tradução é elaborada a partir do inglês e não do original italiano, ou seja, perde-se duas vezes — felizmente restam as imagens e a música. Em português “Às Coisas Que Nos Fazem Felizes”. Realizado por Gabriele Muccino.
☆ ☆ ☆ ☆
Mais um de Hollywood sem grande mérito. Resolvi ver por aparecer em primeiro numa lista dos melhores do ano passado e é mediano na melhor das hipóteses. E mesmo num filme completamente inócuo em termos “sociais” (nem tanto, há a pretenção de querer insinuar que Hollywood foi construído nas costas dos negros), é importante saber que a irmã do protagonista é lésbica, factos para os quais já perdi a paciência há muito tempo — o vaping também faz uma aparição completamente fora de um contexto credível, parece mesmo colocação de produto (ou seja, publicidade) — os cigarros estão reservados para o cinema europeu onde virtualmente 100% dos protagonistas fumam (um verdadeiro fenómeno estatístico que deve ter uma explicação se o dinheiro for seguido). De resto, tudo já visto e mais do que visto. Realizado por Jordan Peele.
☆ ☆ ☆
A primeira longa metragem de Denis Villeneuve, de quando ainda era um pobre realizador do Quebec e falada no francês de lá. Não é mau. Realizado por Denis Villeneuve.
☆ ☆ ☆ ☆
Jack Nicholson com 34 anos já parece velho e Art Garfunkel (aqui como Arthur), não o parece menos. Diálogos incessantes e muito bons, da autoria de Jules Feiffer (o da banda desenhada). Em português “Iniciação Carnal”. Realizado por Mike Nichols.
☆ ☆ ☆ ☆
Em português “Operação Golfinho”. Realizado por Mike Nichols.
☆
Em português “O Menu”. Realizado por Mark Mylod.
☆ ☆ ☆
Realizado por Denis Villeneuve.
☆ ☆ ☆ ½
1941, 1945, 1959, 1971, 1973, 1985, 1998, 2000, 2013, 2016, 2019, 2020, 2021, 2022, carine tardieu, christopher nolan, cinema 2023, denis villeneuve, gabriele muccino, jean-pierre melville, jeremy saulnier, john m. stahl, jordan peele, marco bellocchio, mark mylod, michel deville, michel franco, mike nichols, ramon zürcher, raoul walsh, rian johnson, silvan zürcher, vincent maël cardona

— Ando por aí a tentar perceber para onde vou.

— E tenho tempestades a revolver dentro de mim…
Gli Anni Più Belli (2020) de Gabriele Muccino.
Tudo indicava que iria gostar menos, mas a interpretação da desintegração de Sara por Juliette Binoche, prendeu-me. A minha única queixa acaba por ser a música — dos Tindersticks — demasiado dramática e demasiado presente, com excepção para a música final. Em português “Com Amor e com Raiva”. Realizado por Claire Denis.
☆ ☆ ☆ ☆
O actual “melhor filme de todos os tempos”, segundo o British Film Institute (a lista vale a pena, tem belíssimos filmes), realizado por Chantal Akerman. Nas suas mais de três horas através de câmaras fixas em planos escrupulosamente compostos, acompanhamos três dias da rotina de uma mulher viúva que vive com o filho e recebe o ocasional cavalheiro, para fazer face às despesas. De uma sensação inicial de algum tédio, torna-se impossível não sentir algo por aquela mulher solitária — uma verdadeiramente espantosa Delphine Seyrig. O controle e uma impecável compostura, parecem sempre no limiar da ruptura, o que eventualmente acaba mesmo por acontecer de forma inesperada. (No British Film Institute tem outra lista votada pelos maiores realizadores vivos, este filme aparece um quarto lugar.) Realizado por Chantal Akerman.
☆ ☆ ☆ ☆ ½
Em português “Crime e Silêncio”. Realizado por Allen Baron.
☆ ☆ ☆ ½
Em português “O Insaciável”. Realizado por Antonia Bird.
☆
Resolvi rever, tinha ido ao cinema em 2017… desta vez não gostei tanto, mas é um bom filme de sci-fi. Realizado por Denis Villeneuve.
☆ ☆ ☆ ☆
Não é mau, mas não foi realmente a lado nenhum. E sendo o segundo filme do mês onde canibalismo é o prato principal (o primeiro foi o lamentável Ravenous), posso confirmar que não é tema que me encante. Para historieta de amor, serve. Em português “Ossos e Tudo”. Realizado por Luca Guadagnino.
☆ ☆ ☆ ½
Achei a família, como um todo, altamente credível. Realizado por Clara Roquet.
☆ ☆ ☆ ☆
Algo teatral, mas bom. Realizado por Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel.
☆ ☆ ☆ ☆
Com o Mads Mikkelsen é sempre de olhar e ver. Em português “Cavaleiros da Justiça”. Realizado por Anders Thomas Jensen.
☆ ☆ ☆ ☆
Em português “Almas Negras”. Realizado por Francesco Munzi.
☆ ☆ ☆ ☆
Fica só a faltar o “Conto de Primavera”. Em português “Conto de Inverno”. Realizado por Éric Rhomer.
☆ ☆ ☆ ☆
Em português “Os Espíritos de Inisherin”. Realizado por Martin McDonagh.
☆ ☆ ☆ ☆ ½
Há aqui um ambiente de ficção científica, embora seja a realidade de hoje. Realizado por Steven Soderbergh.
☆ ☆ ☆
Em português “Refém de Boa Vontade”. Realizado por Stephen Frears.
☆ ☆ ☆ ½
A banda sonora, que enquadra o ambiente incrivelmente bem, é de Michael Been (The Call), tem piada constatar que a banda sonora de The Card Counter é de Robert Levon Been (Black Rebel Motorcycle Club), o seu filho. Em português “Perigo Incerto”. Realizado por Paul Schrader.
☆ ☆ ☆ ☆
Uma quantidade de bons pormenores não chegam… Realizado por Charlotte Wells.
☆ ☆ ☆
Em português “Um Crime no Expresso do Oriente”. Realizado por Kenneth Branagh.
☆ ☆
Acabo o ano a ver filmes recentes americanos (neste caso com colaboração inglesa), só para comprovar que de Hollywood vem quase exclusivamente só lixo. Eu lembro-me bem do que foi o início da guerra do Iraque e da destruição de um país porque assim foi decidido em Washington com a conivência do lacaio londrino — mas não me lembro deste caso (em 2003), a poucos jornais terá chegado. Qualquer pessoa teve oportunidade observar em directo o chorrilho de mentiras que Colin Powell apresentou na ONU, os proponentes não tiveram uma resolução favorável apesar de todas as manobras deploráveis e mesmo assim fizeram o que toda a gente sabe e está à vista — e acresce talvez um milhão de mortos. Os mesmos que agora se incham de moral no estado-fantoche Ucrânia e a guerra dos EUA à Rússia por procuração, e a populaça de sempre continua a acreditar nas mesmas mentiras de sempre, se não fosse tão grave, seria bastante fascinante. Como se não bastasse, Keira Knightley é uma actriz sem qualquer interesse. Em português “Segredos Oficiais”. Realizado por Gavin Hood.
☆ ☆ ½
1961, 1975, 1984, 1992, 1999, 2017, 2019, 2020, 2021, 2022, allen baron, anders thomas jensen, antonia bird, chantal akerman, charlotte wells, cinema 2022, claire denis, clara roquet, denis villeneuve, éric rohmer, francesco munzi, gavin hood, ilya khrzhanovskiy, jekaterina oertel, kenneth branagh, luca guadagnino, martin mcdonagh, paul schrader, stephen frears, steven soderbergh