Num teatro do parque, a Amália para um espectador cheio de tosse:
—Eh pá, ’tás à rasca.
Num teatro do parque, a Amália para um espectador cheio de tosse:
—Eh pá, ’tás à rasca.
“(…) Porquê?”
“Porque erraste”
Não gostei da frase, soou como o eco de uma velha ofensa. Estava a atirar-me à cara que eu errara, apesar de ela ter tentado afastar-me do erro. Estava a dizer-me que eu quisera errar, e consequentemente ela enganara-se, eu não era inteligente, era uma mulher estúpida.
—Elena Ferrante, História da Menina Perdida
Disse que ela não era de facto minha amiga, que me detestava, que sim, era extraordinariamente inteligente, que também era muito fascinante, mas que a sua inteligência era mal usada — a inteligência maldosa que semeia discórdia e odeia a vida —, e o seu fascínio era do mais insuportável, o tipo de fascínio que escraviza e leva à ruína. Assim mesmo.
—Elena Ferrante, História de Quem Vai e de Quem Fica
É devido à nossa solidão que nos abrimos ao Outro e consentimos que o Outro se abra a nós. É devido à nossa solidão (que é somente negada, mas não vencida, pelo tumulto do existir-com) que nos tornamos sujeitos morais. É só concedendo à coexistência as suas possibilidades, que só o futuro poderá revelar, que mantemos a ocasião, no presente, de agirmos moralmente, e por vezes até mesmo de fazermos o bem.
—Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada, Relógio D’Água, 2007
Mas ela apercebera-se disso desde o instante em que eu lhe aparecera à frente, e agora, arriscando-se a ter atritos com os colegas de trabalho e a ser penalizada, estava a reagir, explicando-me de facto que eu não ganhara nada, que no Mundo não havia coisa nenhuma para ganhar, que a sua vida era tão cheia de aventuras variadas e insensatas como a minha, e que o tempo simplesmente passava sem fazer qualquer sentido, e que era bom vermo-nos só de vez em quando para ouvirmos o som louco do cérebro de uma repercutir-se dentro do som louco do cérebro da outra.
—Elena Ferrante, História do Novo Nome