Metroland (1997), de Philip Saville.
Metroland (1997), de Philip Saville.
Isto é uma aberração ou é normal? Os livros dizem: ela fez isto porque. A vida diz: ela fez isto. É nos livros que as coisas nos são explicadas, na vida não são. Não me surpreende que algumas pessoas prefiram os livros. Os livros dão um sentido à vida. O único problema é que as vidas a que eles dão sentido são as vidas dos outros, nunca é nossa.
—Julian Barnes, O Papagaio de Flaubert, Quetzal, 2019 (1984)
Mas alguma vez teria passado de um projecto de um projecto? “Vou pôr-te nas minhas memórias” é um dos lugares comuns mais fáceis do namoro literário. Pode juntar-se a “Vou pôr-te num filme”, “Podia imortalizar-te num quadro”, “Vejo o teu pescoço em mármore”, etc, etc.
—Julian Barnes, O Papagaio de Flaubert, Quetzal, 2019 (1984)
Não julgues que faço parte dessa raça vulgar de homens que sentem nojo depois do prazer e para quem o amor só existe como luxúria. Não: Em mim, o que se inflama não se apaga tão depressa. O musgo cresce nos castelos do meu coração mal eles acabam de ser erguidos; mas demora algum tempo até que se desmoronem, se é que alguma vez ficam completamente destruídos.
—Julian Barnes, O Papagaio de Flaubert, Quetzal, 2019 (1984)
— Ela dizia que queria descansar no meu ombro e ser leve como um pássaro. Achei que era poético. E excelente, caramba, mesmo do que um tipo precisa. Nunca gramei pegajosas.
O homem fez uma pausa. Paul ficava sempre feliz por fornecer a deixa.
— Mas não resultou?
— Dois problemas. — O tipo inspirou e depois soprou o fumo no ar perfumado. — Número um, os pássaros batem a asa, não batem? É da natureza dos pássaros, não é? E número dois, antes disso cagam-nos sempre no ombro.
—Julian Barnes, A Única História