O sol brilhou como um suspiro trémulo. Era esse o problema das famílias. Tal como um médico odioso, sabiam bem onde doía.
—Arundathi Roy, O Deus das Pequenas Coisas
O sol brilhou como um suspiro trémulo. Era esse o problema das famílias. Tal como um médico odioso, sabiam bem onde doía.
—Arundathi Roy, O Deus das Pequenas Coisas
The bird a nest, the spider a web, man friendship.
—William Blake, Proverbs of Hell
We are not lovers
because of the love
we make
but the love
we have
We are not friends
because of the laughs
we spend
but the tears
we save
I don’t want to be near you
for the thoughts we share
but the words we never have
to speak
I will never miss you
because of what we do
but what we are
together
—Nikki Giovanni
Há uma diferença essencial entre o fim do amor e o fim da amizade. Nas relações amorosas podemos sempre alegar que o suposto “amor” foi um equívoco. Mas é muito mais difícil sermos amigos de alguém durante anos e um dia concluirmos que aquilo nunca foi uma amizade.
No amor, o erro sobre o objecto é um alibi para o desgosto. Na amizade, o erro sobre o objecto é apenas desgostante.
—Pedro Mexia, Estado Civil, Tinta da China, 2009

Fotografia da primeira edição de To Kill a Mockinbird.
Harper Lee (1926-2016) escreveu um único livro, descontando aquele que terá sido meramente uma primeira versão de To Kill a Mockingbird, publicado já perto da sua morte e em circunstâncias no mínimo suspeitas.
Escreveu um único livro — juntando-se a J.D. Salinger, Emily Brontë, Margaret Mitchell, Sylvia Plath, Boris Pasternak ou Arundhati Roy — e o resto é história, ganhou o Pulitzer, tornou-se um clássico da literatura americana e apenas passados dois anos da primeira edição, foi realizado um filme com Gregory Peck de quem se tornou próxima. Peck ganhou um Oscar pela sua maravilhosa interpretação de Atticus Finch e um dos seus netos chama-se Harper Peck Voll.
A narradora é Scout, filha de Atticus, que em 1935, com o seu irmão mais velho e o amigo Dill atravessam uma fase da infância marcada por acontecimentos traumáticos na sua cidade e na própria família, o pai foi incumbido de defender um negro acusado de violação de uma branca. A autora consegue dar uma extraordinária e pungente credibilidade à narração de uma realidade complexa vista pelos olhos de uma criança de oito anos.
Harper Lee foi amiga de Truman Capote, sendo Dill Harris baseado no escritor. A conclusão lógica é que Scout é ela própria, pois Truman, tal como Dill, passava as férias de Verão com Nelle (Harper Lee). Com a dúvida que assalta qualquer jovem autor, Capote tornou-se crucial na inspiração e incentivo para que este livro existisse, tendo eventualmente até ajudado a escrever os primeiros capítulos — acredito-me profundamente na influência das boas companhias (e na perfídia das más). Acabaram por se afastar, quando o estilo recluso de Harper Lee se tornou incompatível com a extravagante vida social de Capote que se seguiu ao seu sucesso literário.
Se mais provas fossem necessárias sobre a estupidez dos ventos de modernidade que sopram da América e que indivíduos de índole duvidosa tentam importar para cá, To Kill a Mockingbird faz parte da crescente lista de títulos banidos devido a múltiplas queixas por parte de gente cuja ignorância é verdadeiramente torrencial. Mas os Estados Unidos sempre foram assim, tanto nos dão um livro destes, como as razões porque foi escrito, que continuam bem presentes com outras cores e inversão de papéis.