Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

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A Luz de Pequim

Publicado em 06/03/2021

Gosto de ler o que Francisco José Viegas publica no seu blogue em grandes grupos de pequenos textos, julgo que a esmagadora maioria antes vistos em jornais. Este livro… nem por isso. Cai no imenso grupo do “há tanto para ler, porque haveria de ler isto?”. A omnipresente embirração com os lugares onde não se pode fumar, ou com tudo o que é vegan ou biológico — a ditadura contra os pequenos prazeres pessoais —, já tinha entendido, não precisava de mais um livro para isso. Mas onde me perdi em definitivo foi no desenrolar torrencial de sítios, ruas e lugares… é algo incessante durante todo o livro. A partir da página 138 comecei a tomar nota e não se consegue ler uma página inteira seguida, é inacreditável. Francisco José Viegas garante-nos que é um homem do Mundo. Direi mesmo mais, é um homem aqui do norte e arredores, mais ou menos. Portanto, a partir da página 138:
Guiné, Porto, Madrid, Minho, África, Peniche, União Soviética, Checoslováquia, Roménia, China, Bulgária, Mar Negro, Aveiro, Leça, Alemanha, Braga, Barcelos, Campanhã, Rússia, Hungria, Praga, Estalinegrado, Cáucaso, URSS, Moscovo, Astrakhan, Avenida dos Aliados, Estação de S. Bento, Estação Finlândia, Petrogrado, Viena, Brasil, Rio, S. Paulo, Bairro da Sé, Santos, Gaia, Guimarães, Gondomar, Brasília, Portugal, S. Paulo, Matosinhos, Macau, Vieira do Minho, Hong Kong, Coimbra, Figueira da Foz, Bissau, Pedrógão Grande, Massarelos, Mongólia, Pequim, Cidade Proibida, Gaubeidian, Rua da Restauração, S. Lázaro, Praga, Machu Picchu, Cordilheira dos Andes, Egito (o sítio de onde vêm os egípcios, com p), Cantareira, Afurada, Douro, Rua das Flores, Rua de Belomonte, Rua do Almada, Rua de São João, Rua dos Clérigos, Vale de Cambra, Praça da Liberdade, Rua de 31 de Janeiro, Rua de Santo António, Batalha, Afurada, Serra do Pilar, Sé, (Rio) Yang-Tsé, Rua de Santa Catarina, Praça da Batalha, S. Lázaro, Rua de Entreparedes, Aliados, Rua Formosa, Rua de Sá da Bandeira, Rua do Bonjardim, Rua de Santo Ildefonso, Igreja de S. Francisco, Foz, Dublin, Irlanda, Passeio Alegre, Castelo do Queijo, Rua de Fernandes Tomás, Rua Barão de Nova Sintra, Moncorvo, Carrazeda (de Ansiães), Vila Flor, Boavista, Golfo (Pérsico), Beijing… e continua, e repete, repete… Parei depois de 50 ou 60 páginas, senão não conseguiria acabar de ler.
Na página 256 há um sensacional catálogo de 27 lugares a contar com a nota de rodapé (Casablanca), nunca li nada igual. E pelo meio há outros catálogos, de restaurantes ou maços de tabaco antigos. E pode ser que me engane, mas parece que também não teve grande editor… a certa altura fala de 32.000 contos em Leninegrado — tinha de ser algures! — e passado uma linha, ou duas, são apenas 22.000 contos; quase no fim fala de uma mulher pendurada numa árvore e num homem pendurado na Ponte de D. Luís, mas pareceu-me ao contrário, ou fui eu que cheguei ali sem perceber nada. Uma leitura mais atenta seria bem capaz de revelar mais alguma coisa. É relativamente recente para mim e raramente aconteceu, mas estou na fase de deixar livros a meio se não gosto, não compreendo como cheguei ao fim deste. Até no título tem a menção de uma cidade, até os personagens Freixo e Aleixo remetem para lugares… é fastidioso.
Tem algumas boas passagens, principalmente para o final, e é tudo. E não é muito.

De “Rapariga, Mulher, Outra” para “A Luz de Pequim”

Publicado em 17/01/2021

Rapariga, Mulher, Outra

Comecei a ler “Rapariga, Mulher, Outra” de Bernardine Evaristo por apenas uma razão: “Man Booker Prize” (que ganhou em 2019 juntamente com Margaret Atwood). (A esse propósito, parece que agora se chama somente “The Booker Prize” porque o Man Group deixou de o patrocinar.) O livro está composto de forma que considero deplorável, com eventual origem na autora. Praticamente tudo em letra pequena, iniciais de capítulo de fugir, sem pontuação, linhas de intervalo com uma vaga relação com o texto, tudo extremamente moderno… enfim, há tanto para ler, não vejo um único motivo para ler isto desta forma.
Passei sem mais delongas para “A Luz de Pequim” de Francisco José Viegas, que me surpreendeu por escrever no mau português do tal acordo ortográfico… No Brasil, a Porto Editora deve estar a vender livros sem jeito, valeu a pena desvalorizar a portugalidade.