Hoje em dia já ninguém lá vai, aquilo está cheio de gente

Artigos etiquetados “tv 2021

TV em Outubro

Publicado em 31/10/2021

Sex Education (terceira temporada, 2021)

É um freak show, podia ser melhor se não fossem as quotas que ironicamente acabam por reflectir muito pouco o mundo real. É como se os autores estivessem a contribuir para uma série de profecias auto-realizadas, criando mais promiscuidade, mais homossexualidade, mais vazio e mais falta de identidade individual, desvalorizando o sexo até ao ponto de não valer nada, enquanto hipocritamente nos vão assegurando que é muito importante. Ao ponto de a principal mentora dessa filosofia e modo de vida na série, a terapeuta Jean Millburn (Gillian Anderson), dar à luz uma criança aos 48 anos, não sabendo sequer quem é o pai — nesse aspecto chega a ser um espectáculo sórdido.
É um mundo onde são os filhos que dão sermões aos pais — que são uma espécie de amigos mal comportados — e os ensinam a comportarem-se, a aceitarem diferenças que são tantas ao ponto da atomização, a aceitarem o amor e ao mesmo tempo a liberdade de fazer tudo o que lhes apetece. Os pais que dão sermões aos filhos estão sempre errados e tiveram uma infância reprimida e problemática, numa palavra, não sabem nada. E obviamente, quem manda na escola, são os alunos de 17 anos.
Mesmo quando se pensa que há uma inflexão, como por exemplo quando Otis Millburn diz à mãe que ela é a pessoa menos ética que conhece, muito pouco habilitada a dar-lhe conselhos, não demora muito a dizer o inverso. Ou quando Jakob Nyman (Mikael Persbrandt), o alegado pai da criança (que desilusão vai ter na quarta temporada, mas o mais certo é ser um homem moderno) diz que que não confia em Jean Millburn, qualquer um pensaria que seria uma consequência lógica do conhecimento que tem da sua vida promíscua, mas não, afinal ficamos a saber que a sua falecida mulher também o andava a trair, desde aí tem dificuldades em confiar nas pessoas. Como se a vida da confiável Dra. Millburn mudasse de um dia para o outro, porque o presente são apenas quatro segundos e tudo o resto é passado, já passou, e principalmente, não irá repetir-se (com o mesmo!) e não acarreta consequências ou responsabilidades.
Independentemente, continua a ter bons momentos de humor alternados com pungência e a gargalhada de Eric (Eric Effiong), o exuberante homossexual, é meia série. O par Otis Millburn (Asa Butterfield) e Maeve Wiley (Emma Mackey), nesta temporada muito apagado, são a outra metade.
A esperança de quem vai contribuindo para a destruição de todos os valores é que um dia, o mundo real seja semelhante àquilo que criaram. Mas, se a destruição de valores que demoraram pelo menos dois milénios a conquistar é certa, aquilo que ocupará esse vazio não o é de todo, mas a experiência social, essa tem de continuar. Criado por Laurie Nunn.
☆ ☆ ☆ ½

TV em Setembro

Publicado em 30/09/2021

Frasier (décima primeira temporada, 2003)

Esta série tem sido uma companhia ao fim da noite e esta época foi um grande final. Durante os onze anos ganhou 37 Emmys de horário nobre e merecidamente (suplantando Cheers que conseguiu 28). Frasier e o irmão Niles são dois personagens inesquecíveis, um par de tiques de snobismo nunca igualado. O conjunto de personagens secundárias é simplesmente brilhante. Os colegas de Frasier na rádio, se não existissem teriam de ser inventados; o pai, Daphne, os irmãos e a família de Daphne; o conjunto de mulheres com que Frasier saiu, algumas geniais… Teve alguns episódios e uma época em particular mais ao estilo da farsa e da comédia mais física, o que me desagrada, mas na generalidade, mesmo muito bom. Nesta última temporada também telefonou a Helen Mirren o que só confirma tudo o que escrevi. Criado por David Angell, Peter Casey e David Lee.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Exit (primeira temporada, 2019)

É uma série sobre quatro narcisistas insuportáveis. Diz no Filmin que é uma comédia, não sei onde esta gente vai buscar essa ideia, as questões de género andam confusas em todo o lado. É um drama e pesado. Realizado por Øystein Karlsen.
☆ ☆ ☆ ½

Exit (segunda temporada, 2021)

Afinal não são apenas narcisistas, são sociopatas. A série segue uma linha muito contemporânea que pretende mostrar como são maus os ricos e serão realmente, mas não faltam pobres iguais ou piores. Em vez de carros de luxo, são chaços “quitados”; em vez de putas caras, são putas de estrada; em vez da bolsa, são jogos de casino ou de café; em vez de cocaína, são cigarros, uns charros e o que aparece; em vez de milhões, são tostões… Mas é tudo igual. Realizado por Øystein Karlsen.
☆ ☆ ☆ ½

Colony (terceira temporada, 2018)

Terceira e felizmente, última temporada, esta série nem a um fim teve direito. Que miséria franciscana. Criado por Ryan J. Condal e Carlton Cuse.

Heksejakt (primeira temporada, 2020)

Em português “Caça às Bruxas”. Criado por Anna Bache-Wiig e Siv Rajendram Eliassen.
☆ ☆ ☆ ☆

TV em Junho

Publicado em 30/06/2021

Frasier (quarta temporada, 1996)

Criado por David Angell, Peter Casey e David Lee.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Mare of Easttown (primeira temporada, 2021)

Estas séries são formulaicas, mas inegavelmente bem feitas. O mal é que já vi muitas e rapidamente me apercebo do que se passa, mas desta vez não. Foi óbvio passar-se algo muito para além do que se estava a ver, a partir do momento em que tudo se resolve nos primeiros minutos (de 116) do último episódio. Havia ainda mais de uma hora para nos revelar toda a verdade, que francamente, sendo possível, seria na realidade pouco provável. Tal como a janela temporal do desaparecimento de um revolver e posterior reaparecimento, fundamental para resolver o caso… é possível, mas mesmo muito pouco provável. Criado por Brad Ingelsby.
☆ ☆ ☆ ☆

Frasier (quinta temporada, 1997)

Criado por David Angell, Peter Casey e David Lee.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Frasier (sexta temporada, 1998)

Piorou bastante. A relação de Frasier com as mulheres passou de difícil a patética e até contra o carácter (algo que encaro mal), alguma rábulas são revisteiras e de comédia tão fácil que para mim nem comédia é. O próprio Niles, uma referência do snobismo, tem episódios em que é uma sombra — há um (do dia dos namorados, o mais fraco da temporada) que podia ter sido feito pelo Harold Lloyd. Continuo a gostar de ver quem telefona, Gillian Anderson, Ron Howard… Criado por David Angell, Peter Casey e David Lee.
☆ ☆ ☆ ½

TV em Janeiro

Publicado em 31/01/2021

The Night Manager (2016)

John le Carré, que faz uma breve aparição no quarto episódio, queria que Stanley Kubrick adaptasse o seu livro homónimo para o cinema. De uma carta de Kubrick para Carré em 1992 (Twitter):

Unhappily, the problem is still pretty much as I fumbled and bumbled it out to you on the phone yesterday. Essentially: how do you tell a story it took the author 165,000 (my guess) good and necessary words to tell, with 12,000 words (about the number of words you get to say in a two hour movie, based on 150wpm speaking rate, less 30% silence and action) without flattening everybody into gingerbread men?

Esta série criada por David Farr, faz justiça ao livro em cerca de seis horas.
☆ ☆ ☆ ☆

The Good Lord Bird (2020)

Talvez influenciado pelo livro “Defesa de John Brown” de Henry David Thoreau, resolvi ver esta série à espera de algo vagamente histórico. Mas não, é tudo uma farsa em tom de farsa. Criado por Ethan Hawke.
☆ ☆

Barry (primeira temporada, 2018)

Criado por Alec Berg e Bill Hader.
☆ ☆ ☆ ☆ ½

Barry (segunda temporada, 2019)

Passada a surpresa inicial, é uma sucessão de episódios cada vez mais idiotas. Criado por Alec Berg e Bill Hader.
☆ ☆ ☆ ½

Russian Doll (primeira temporada, 2019)

Uma mulher morre e regressa ao ponto de partida (onde já terei visto isso?) — uma casa de banho sobre a qual a dona da casa pergunta se é “suficientemente vaginal” e seja lá o que isso for, é uma amostra das aprofundadas conversas a que se assiste no meio artsy fartsy feminista onde decorre a coisa. Não morre apenas uma vez e regressa, a série é toda assim, infelizmente a criatura faz parte daquele mundo que realmente podia morrer e regressar 1.600.000 vezes que não aprenderia nada. E eu também não aprendi. Criado por Leslye Headland, Natasha Lyonne e Amy Poehler.

True Detective (terceira temporada, 2019)

Dizia Einstein que o passado, presente e futuro não passam de uma ilusão persistente. Esta série faz uso desse conceito de forma brilhante, avançando e recuando décadas sem nunca perder o ritmo. Criado por Nic Pizzolatto.
☆ ☆ ☆ ☆