La Piscine (1969) de Jacques Deray.
A tocar Ask Yourself Why de Sally Stevens e Michel Legrand.
La Piscine (1969) de Jacques Deray.
A tocar Ask Yourself Why de Sally Stevens e Michel Legrand.
Ouvir a música em vinil é das poucas coisas que me dão prazer ultimamente. Gosto imenso de olhar para as capas, há capas espantosas e só isso já é uma introdução à música. Retirar o plástico, colocar uma capa nova, lavar o disco e eventualmente mudar a capa interior, a ligação emocional começa muito antes da agulha descer sobre o disco. A antecipação de algo que pode ser grandioso. É algo que o CD, independentemente de questões de qualidade sonora, nunca conseguiu.
Surpreendeu-me pela qualidade sonora e musical que o nome não deixaria adivinhar, o Time Out Takes (out-takes) editado pelo estate de Dave Brubeck. A prensagem é imaculada e a música poderia perfeitamente ter sido incluída no famoso Time Out. Gostei imenso da versão do Take Five e de todo o disco. Os discos da fotografia têm um som extraordinário, a começar pelo Legrand Jazz da Impex, logo ao lado Jazz Sur Seine da Sam Records, GoGo Penguin da Blue Note (atrás está o disco homónimo que deu origem ao GGP/RMX). O Little Freddie King da Newvelle Records no vinil transparente da Quality Record Pressings… Sons of Kemet, um disco incrível da Impulse!, dentro do estilo jazz moderno e world music. Tudo mesmo bom.
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Grande disco.
Por facilidade de linguagem, vou dizer 10 anos. Há 10 anos, notei que o meu gosto musical estava não só a mudar, como a alargar. Músicas que ouvia desde os meus 16 anos, começaram a soar pior, tendo algumas caído na mais completa desgraça e rápido esquecimento. Cumpriram a sua função durante muitos anos e é tudo. Mesmo discos com conotação audiófila, como “Loveless” dos My Bloody Valentine (a minha banda preferida desses tempos) já não são a mesma coisa. Grupos como Cocteau Twins já não suporto e escolhi esta banda consensual só para frisar este ponto, porque há muitas mais. Não digo que são más, não são. O que digo, é que por mim deixaram de fazer o que quer que seja há muito tempo.
Entretanto, quando mudei para a casa actual há mais de dois anos, iniciei uma jornada — ou melhor, iniciei a parte final de uma jornada que começou há mesmo muito tempo e que sempre me fez desejar ter uma aparelhagem de alta fidelidade digna desse nome. Tenho agora uma sala dedicada aos livros e ao som, uma combinação que resulta magnificamente porque os livros são difusores naturais. E tenho três paredes cheias deles. E tenho som.
O que noto é uma translação do gosto musical para outras paragens, nomeadamente, discos bem gravados. Tornou-se penoso ouvir discos mal gravados (com a gama dinâmica destruída para “tocarem muito alto” no rádio do carro), ou no caso do vinil, também discos mal editados, com prensagens muito más. A transparência sonora que permite sair deste mundo quando se ouve um disco, é transversal e o que é mau também faz a sua aparição inevitável. Estas aparelhagens high-end ou super high-end não arredondam o som, nem o amaciam, se a música que se ouve é áspera, aspereza é o que teremos. E não gosto. Discos da Analogue Productions, Craft Records, Sam Records, Impex ou Mobility Fidelity Sound Lab, tornaram-se a base de comparação porque em bom rigor um disco novo editado hoje, não tem razão para não sair com esses índices de perfeição. Essas etiquetas audiófilas trabalham essencialmente com reedições, recorrendo às master tapes originais e o preço acaba por se entender, tendo em conta os resultados. Mas, esgotam permanentemente e os discos atingem valores incomportáveis. Comprei a edição de 2015 do “Kind of Blue” de Miles Davis da Mofi (o qual já tenho em CD, vinil mono e vinil stereo) e na pesquisa reparei que há casas a pedir 400£ por uma cópia (se não me engano custou-me 75,00€, o que apesar de tudo, é bastante por um álbum).
E assim, a minha colecção de CDs está praticamente estagnada, a minha colecção de vinil tem crescido imenso e têm chegado tantos que é difícil dar conta de todos. O satisfatório é que tenho comprado álbuns que são agora os melhores que tenho de qualquer género, como o Legrand Jazz (Michel Legrand) da Impex em 2 x 45rpm ou Chet Baker in New York da Craft Recordings. São discos maravilhosos, inacreditavelmente bons. Neste momento terei 22 discos por ouvir, em grande parte porque comprei mais seis da Sam Records e também chegaram os quatro discos da The New Orleans Collection da Newvelle. E estes discos, em edições notavelmente melhores que as originais, permitem-me descobrir ou redescobrir música que me passou completamente ao lado nos tempos idos.
E para ouvir isto tudo, espero até ao fim deste ano dar um grande passo em direcção ao fim da jornada com o gira-discos Technics SL-1000R e a agulha DS W2 da DS Audio (Também a Shell HS-001). Por acaso neste vídeo (YouTube) tem exactamente esta combinação Technics/DS Audio a tocar.
E depois disto, só é preciso ir comprando uns discos, ter tempo para os ouvir e desfrutar.